Parte da revisão anual no cardiologista, tive de encarar um aparelhinho chamado MAPA por 24 horas – é uma espécie de medidor de pressão automatizado, que “acorda” de 15 em 15 minutos. Uma parte vai atada ao braço esquerdo (como em um aparelho convencional) e a outra, ligada por uma mangueirinha, vai presa ao cinto (no meu caso, paciente relapso, na calça mesmo). Tem o tamanho de um walkman antigo, peso idem… após as 24 horas, recolhem o aparelho e os dados são transmitidos ao computador, que emitirá um mapa das pressões durante o dia. Quase um iPod gigante dedicado à sua saúde.
Aí fiquei pensando, no meu mundo da lua: e se o aparelhinho mapeasse de fato o coração das pessoas??? Não o órgão, mas o “coração”, aquela entidade tão cara a poetas, apaixonados, desapaixonados, escritores, compositores, mal-amados e amados deste mundo??? Alguém pode querer excluir da lista aí de cima os desapaixonados e mal-amados, mas são estes os que, justo pela falta, mais se ressentem do “coração”. Amamos também o que nos falta.
Que coisa maravilhosa, embaraçosa, seria… imagine a cara do seu médico… ou o(a) auxiliar, ao olhar os exames? O quanto a mais não se exigiria da ética médica??? Dados confidenciais, doutor: eu amo fulana, eu detesto fulano, não consigo tirar aquela mulher daí de dentro, e assim por diante. Apaixonados reticentes, em seu exame: “falo, não falo? será que sim? será que não? “. E os outros amores também… o coração de uma avó rodeada de netos? Quanta coisa não apareceria… poderíamos olhar depois, com calma, e identificar os pontinhos: “ah, este aqui eu conheço… amo faz uns dois anos!!”. Seu médico lhe olharia com ar grave: “- E este ponto aqui, seu fulano?”. “- Ciclana, doutor. A bendita ainda me deixa louco!”. Um garotinho: dois décimos o cachorro da casa, três para os pais, três pro irmão e o restante tudo em bicicleta!