Lá pelos anos 80, eu olhava para as notícias de meu mundo e imaginava que em trinta ou quarenta anos seríamos quase suecos ou alemães em avanços sociais, acesso à cultura, representação popular, vivência ecológica, educação, capacidade de convivência entre costumes e crenças opostos (e até naturais num país de nossa dimensão), oportunidades, justiça, saúde, distribuição de renda; parecia que, aos trancos e barrancos, o Brasil caminhava nesta direção, assim como boa parte do mundo ocidental desenvolvido. Conseguimos – num momento histórico especialmente fervilhante – levantar uma constituição repleta de garantias à atuação social do Estado e proteção ao cidadão perante abusos deste. Questionamos (até onde foi possível) poderes enraizados na estrutura social brasileira, criamos balizas e contrapesos no sentido de evitar retrocessos. O resultado – imperfeito, fragmentado e multiforme como seus autores humanos – ainda assim era um passo imenso na direção de um futuro menos políticamente medíocre, socialmente cínico, economicamente injusto com seu próprio povo e sua terra; era uma ruptura e não um mero ajuste de trajetória. Olhava para frente e podia pensar um Brasil bonito, digno. Que falta, para quem vive o Brasil 2017, desta luz no futuro da história, que falta…