empréstimos

E tudo me era imensamente novo – lugares, pessoas, o que eu vivia e quem eu era – & ela andava acerca, entre, pelos meus caminhos. Tinha seus dezessete e sonho, eu sonhos aos vinte e dois,  desespero vão por aqueles olhos bem pretinhos, o rosto de menina escondido nos cabelos claros, o andar, meu Deus o andar, eu que achava que sabia cada gesto & cada expressão dela e a sonhava aprender cada quarto cada motel desta abençoada Vila Real do Bom Jesus de Cuiabá, amém.

(a gente empresta um pouco a luz dum desejo antigo, bem antigo mesmo – coisa de 1992, 93, 94 – para se entender hoje. E só assim consegue.)

quando uma cidade, estranhamente, nos toca…

brasilia

“No príncipio era o ermo
Eram antigas solidões sem mágoa.
O altiplano, o infinito descampado
No princípio era o agreste:
O céu azul, a terra vermelho-pungente
E o verde triste do cerrado.
Eram antigas solidões banhadas
De mansos rios inocentes
Por entre as matas recortadas. ”

Vinicius de Moraes, Sinfonia da Alvorada  – escrita ‘lá’  a quatro mãos  – parceria com Tom Jobim –  e à época, nascimento de Brasilia. Talvez para ser Braxilia,  imaginada/sonhada pelo poeta Nicolas Behr.

 

 

Quase oração

Meu espírito velho
preto mulato colono italiano
que já viu tanto, nasceu/morreu/nasceu/morreu
tanto
e
desta vez, mal viveu.

Que me cuida
&
me conduz são em meio ao deserto
estéril barulhento e colorido desta época
deste lugar e persona…
sigo porque há caminho.

Algum lugar mato-verde-cheiro-planta-terra-água
depois chuva,
barulho dela nas pedras
e
dos pequenos bichos de Deus, amém.
Assim seja.