universo paralelo (1)

1) Universo paralelo: são 65 (sessenta e cinco) quilômetros daqui, onde estamos, até a cidade de Chapada dos Guimarães. Quase deserta,  nesta terça-feira trivial, em tudo indistinta. Te busco. Saio daqui pensando na tua risada ecoando no carro, nas desculpas que vc. irá inventar para sumir por uma tarde, nas tuas provocações e brincadeiras a estrada inteira. Sei que vai me pedir para ir mais devagar em um trecho, mais bonito, e vai me pedir de um jeito que só vai me deixar esta alternativa. E uma vez lá, estes sessenta e cinco quilômetros se parecerão com um mundo,  a distância entre duas realidades: aquela que deixamos para trás e a que temos a sorte imensa de experimentar, sem pressa, sem culpa, sem satisfação a mais ninguém.

2) A outra escolha: indiferente à chuva que insiste em cair há semanas, a vida segue um curso previsível. A chuva traz frio, mas a insistência geral é no ar condicionado, nas centenas de salas quase tão indistintas como a terça-feira. Aqui no meu canto, a idéia da existência de um universo paralelo é o que me intriga e move. Nele, este Ricardo saiu no início da tarde, avisando que não retornaria; na chuva fina, dirigiu-se à um prédio na mesma região onde, em uma sala igualmente fria demais, a garota de óculos que ele conhecera alguns anos atrás  aguardava uma chamada em seu celular, os olhos indo deste ao monitor, aos colegas e novamente ao celular.  Que enfim tocou, e moveu garota, óculos, celular, olhares e comentários mudos em direção à porta, depois ao corredor largo, aos jardins e finalmente, ao carro estacionado logo em frente. Dalí, seriam sessenta e cinco quilômetros até a cidadezinha e  ao calor, apesar de todo o frio.

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obs: É um tema recorrente, eu sei. Creio que publiquei algo próximo em 2009… mas algumas vontades permanecem e, ocasionalmente,  são estas vontades que nos salvam, suportam, inspiram. É isso.