Fui adolescente lá pela segunda metade dos anos 80, e duas bandas que demorei para ouvir (ou melhor, para respeitar) foram, justamente, duas queridinhas da minha geração: o U2 e, aqui do Brasil, a Legião Urbana. E nem era algo relacionado especificamente à música, mas sim com os fãs; ambas as bandas possuíam hordas de seguidores fanáticos que, como todos os extremistas apaixonados, eram um porre de se aturar. Religião Pop, parei aqui. Fechei meus ouvidos para qualquer coisa que viesse de ambas, por um longo tempo; e lembro exatamente de onde mudei de idéia e comecei a ouvir e descobrir que, longe das canções óbvias de trabalho, aquelas que tocavam nas rádios ad nauseum, existiam sim, boas letras e melodias interessantíssimas.
Da Legião meu afastamento durou até 1995, quando acompanhei uma amiga porra-louca num boteco pra lá de ‘alternativo’ (até demais) e fiquei encucado, que p… de banda é esta que está tocando no som, parece Joy Division, industrial, seco, urgente… as linhas de baixo e guitarra iguais ao Joy mas… está cantando em português… caramba, que legal – letra inclusive!! Que massa!!! Sim, era legal, e eram os primeiros discos da Legião… quem diria. Queimei minha língua.
Já do U2, eu mantinha mais distância ainda, até que, do nada, em 2008 apareceu para mim uma gravação da Cassandra Wilson de uma música realmente linda. Gostei da melodia, já gostava da voz e do estilo dela, prestei mais atenção à letra: lá pelo meio, “Love is clockworks and cold steel / Fingers too numb to feel.…” – peraí.. bom!!! E mais adiante, “Love is blindness, I don’t want to see / Won’t you wrap the night around me?”. Caramba, que letra inspirada… fui pesquisar, esperando algum nome do R&B na composição, deixa eu ver, quem sabe tem mais destas…. Rá! U2. Engolí em seco. Para aprender a não pré-julgar um artista pela exposição/promoção que ele tem – ou ao menos, não pré-julgar toda a produção dele… 😉