Assisti estes dias a um filme que era uma grande curiosidade minha há pelo menos 12 anos: Sommaren med Monika, ou Monica e o Desejo, do Ingmar Bergman. Deve ser meu quinto ou sexto Bergman e, verdade seja dita, temos uma relação complicada: gosto da sinceridade e da coragem dele, mas há cinza demais (e não estou me referindo à soberba fotografia p&b) na vida e na alma de seus personagens. Deve ser uma barra bem pesada representar alí. Com Monica e o Desejo não foi diferente; a imagem de Harriet Anderson, selvagem, belíssima em seu início de carreira (disse Bergman em uma entrevista que os diretores de cinema e teatro suecos mais novinhos eram apaixonados por ela; é ver o filme e entender os motivos…), a fotografia em preto-e-branco em que cada fotograma poderia subsistir por conta própria, a viagem de barco pelas ilhas Faroe, é quase uma versão pessoal (Bergmaniana) do paraíso. Paraíso que a realidade vai dar conta de destruir, na segunda metade do filme, até transformá-lo no tradicional inferno de Bergman: inadaptação, traição, uma gravidez indesejada, horizontes cada vez mais limitados, choque, desilusão, opressão. A felicidade que o destino constrói dura pouco, e a vida há de carregar.
É uma análise simplista esta minha, eu sei. Indigna quase, depois de ter visto outros Bergmans como O Sétimo Selo, ou Morangos Silvestres. Ou ainda, quando há um Bergman menos asfixiante em seu final de carreira, como Fanny & Alexander. Mas, honestamente, o que posso dizer sobre o filme que esperei 12 anos para ver: adorei ver Harriet Anderson (e me apaixonei também), confirmei que a fotografia se sustenta sozinha, quadro a quadro, e vivi por gloriosa meia hora o paraíso Bergmaniano perdido. Sei que a história contada alí se repetiu (e repete) infinitamente, ví as dores, ví suas consequências. Mas talvez eu seja mais italiano que sueco e consiga encontrar ainda uma fagulhinha de vida, de esperança, no meio de tanto cinza.