São dezoito horas e quinze, e meu carro está parado no estacionamento de um supermercado. Na minha frente, uma sucessão de pequenas lojinhas – xerox, um salão de beleza, um pet shop, e uma floricultura. Pois bem, estacionei em frente à floricultura, no pátio sujo do fim-do-dia; o sol já se foi, e metade do sábado também. Estou cansado e com o carro cheio de compras, venho de dois outros supermercados, e uma gripe xarope me acompanha há dois dias. Transpiro feito louco (febre, eu acho), e só penso em voltar pra casa. Até olhar com calma pra tal floricultura.
Na vitrine da floricultura, quatro bichos enormes – os clássicos ursos, sapos, macaquinhos e leões de pelúcia. O urso passa de um metro, o nariz espremido na vitrine, entre as flores da estufa. Dentro da loja, também as caixas de bombons de sempre (caseiros – alguma dona de casa defende seu dinheirinho, entre as formas e o fogão). E flores, flores, flores… o ar condicionado trabalha firme alí, mantendo-as por mais algumas horas.
Tempo de virarem oferenda a algum amor na periferia quente de Cuiabá, tempo de chegarem inteiras junto ao bombom recheado na caixa de coração, quem sabe até de carona com o urso gigante, com sorte. Alguém vai pular de surpresa, ou em alguém. Alguém vai arrumar um lugar pro urso gigante na cama, no quarto mínimo onde já não cabe mais nada, alguém vai arrumar um vaso correndo pro bouquet durar mais um dia. Alguém vai comer chocolates pensando, com um meio-sorriso, no louco que presenteou aquilo. Alguém vai olhar alguém de um jeito diferente, hoje.
Achei bacana, esqueci qualquer conceito (ou pré), e desejei de coração um sábado muito legal pra quem passasse por alí. Pra quem tivesse de se virar pra arrumar lugar pro urso gigante, pro macaco. Pra quem fosse chegar com o bouquet colorido com dedicatória feita de garranchos nervosos, o peito feito tambor. Cheio de dúvidas e esperanças, feito música romântica de rádio AM. Pra quem tocasse a campainha e esperasse ansioso atrás do portão, equilibrando o presente, escondendo o bombom já meio derretido. Pra quem irá se derreter depois, feito o bombom.
Enfim, é isso.