O mapa acima data de 1570, obra de um geógrafo e comerciante de livros da Antuérpia chamado Abraham Ortelius. Com as descrições e recursos disponíveis na época, Ortelius organizou este e outros mapas em uma coleção chamada “Theatrum Orbis Terrarum“, reconhecido como um dos primeiros Atlas. Dentre os mapas, este tornou-se um dos mais conhecidos, provavelmente por apresentar ao público o novo mundo. Consta que foi grande sucesso comercial, inclusive, a despeito do preço altíssimo para a época.
Encontrei este mapa por acaso, navegando pela Internet. Usei-o como papel de parede de minhas máquinas (meu PC caseiro e o do serviço, neste clandestinamente, contrariando a ditadura do papel-de-parede-corporativo-igualzinho para todos). Achei importante o mapa porque me deu uma visão tão diferente e perturbadora de nosso continente que senti-me transportado pelo espírito dos navegadores da época. Uma olhada rápida e estamos lá, velho mundo, 1600 e quebrados. Carregamos suprimentos, negociamos vantagens futuras, compomos nossa tripulação… e numa manhã determinada zarpar, cruzar o atlântico rumo ao continente absurdamente novo e desconhecido. Enfrentar ou se unir a outros aventureiros, fincar pé e fundar vilas em locais estratégicos. Talvez como Alvar Nunez Cabeza de Vaca, atravessar Santa Catarina e Paraná, rumo à Assunção, Paraguai. Talvez navegar por rios de dimensões oceânicas, como o Prata pintado por Ortelius. Talvez no Amazonas, como Don Lope de Aguirre, em delírio fundar uma nova civilização no coração da selva. Talvez aprender Guarani, talvez buscar o pacífico. Talvez.
Não sei. A mesma sensação estranha que sinto olhando os campos, chapadas e serras no Paraná ou Mato Grosso (qualquer um deles), sinto olhando a reprodução do mapa de Ortelius que está pendurada na cabeceira da minha cama (sí, tenho mapa de cabeceira). Vivo no mundo do Google Earth, mas sonho no mundo de Ortelius. O mundo ficou menor depois de conhecido e esquadrinhado a contento.